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dispositivo de subversão racial
hip hop
Salvaguarda do patrimônio imaterial

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O trabalho explora o Hip Hop como patrimônio cultural imaterial, discutindo sua salvaguarda diante do processo de epistemicídio. Analisa-se o Hip Hop como um dispositivo de subversão racial, dialogando com o dispositivo de racialidade de Sueli Carneiro. São apresentadas políticas públicas e estratégias comunitárias para reconhecer e preservar a memória e identidade da cultura. O projeto inclui o desenvolvimento de cartilhas de educação patrimonial, abordando aspectos técnicos e sociais, reforçando o protagonismo da comunidade e a importância do reconhecimento institucional.

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introdução

O Hip Hop não é apenas uma cultura ou um movimento, é a expressão de uma luta coletiva que se desenvolve das periferias e desafia as estruturas racistas hegemônicas. No Brasil, onde o racismo opera como um dispositivo de controle e marginalização, o Hip Hop emergiu como um espaço de resistência e transformação social. Ele conecta identidades, resgata memórias e ocupa territórios, sendo ao mesmo tempo uma ferramenta de denúncia das desigualdades e um campo de criação e fortalecimento de narrativas que reconstroem o protagonismo negro e periférico. O Hip Hop, como cultura fundamentalmente negra, sofre processos de epistemicídio, que tenta apagar as raízes negras da cultura, nega e deslegitima saberes produzidos a partir da periferia, ameaçam a essência do movimento.

Inspirado no conceito de dispositivo elaborado por Michel Foucault e ampliado por Sueli Carneiro, este trabalho investiga o Hip Hop como um dispositivo de subversão racial, segundo Foucault, todo dispositivo de poder gera sua própria resistência, ou seja, o Hip Hop se dá como uma estrutura que confronta diretamente o dispositivo de racialidade — mecanismo que organiza e sustenta o racismo estrutural no Brasil.

Reconhecido como patrimônio cultural imaterial já em 6 estados, SP / RJ / ES / RS / RR / PB, e em processo de registro em nível nacional, a patrimonialização, muitas vezes vista como um processo burocrático, precisa ser compreendida como um ato de resistência, uma garantia de que a cultura continue a ser protagonizada por aqueles que a criaram e a vivem. Este trabalho se propõe a investigar como o reconhecimento institucional pode dialogar com as práticas comunitárias, valorizando o protagonismo das periferias e garantindo que a salvaguarda do Hip Hop vá além de uma formalidade.

O Hip Hop, em sua essência, é pedagógico, ensina sobre histórias de resistência, denuncia o racismo e cria redes de solidariedade e consciência. É necessário que o Hip Hop seja reconhecido não apenas como uma expressão cultural, mas como um campo legítimo de produção de conhecimento, cuja potência é capaz de questionar e transformar as bases das desigualdades raciais no Brasil.

Como parte resultante do desenvolvimento do trabalho, apresento duas cartilhas com o objetivo de conscientizar e orientar diferentes públicos sobre a importância da preservação do Hip Hop como patrimônio cultural imaterial do Brasil, apontando caminhos para essa salvaguarda.

Não me proponho a contribuir para uma falsa democracia racial, mas sim, a partir de um olhar atento, apresentar um ponto de vista que possa construir e incentivar iniciativas e políticas públicas que atuem positivamente de forma antirracista, nas condições desfavoráveis em que se encontram o desenvolvimento de culturas negras e periféricas no Brasil, partindo do campo de resistência e subversão que é o Hip Hop. Enquanto movimento cultural e político, se desenvolve nos territórios urbanos, ocupando ruas, praças e outros espaços públicos, as periferias, marcadas por um planejamento urbano excludente, tornam-se território desse movimento, que ressignifica esses lugares ao transformá-los em espaços de produção cultural e enfrentamento às desigualdades. O conceito de dispositivo de racialidade, apresentado por Sueli Carneiro, dialoga com a segregação espacial das cidades e com o modo como os corpos negros e periféricos são marginalizados em suas ocupações. Entender o Hip Hop como um dispositivo de subversão racial é também compreender como ele transforma esses territórios e desafia as lógicas de controle impostas pelo dispositivo de racialidade, contribuindo para que todos tenham direito à cidade.

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proposição

A experiência com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI) demonstram que o Brasil possui ferramentas institucionais para salvaguardar bens culturais imateriais, mas essas ferramentas esbarram na ausência de implementação prática e no distanciamento das comunidades que produzem e vivem essas culturas. É essencial, portanto, ampliar o reconhecimento legal do Hip Hop, garantindo que sua proteção ocorra em âmbito municipal, estadual e nacional, sempre respeitando as especificidades regionais que enriquecem o movimento.

A conexão com movimentos sociais é igualmente estratégica, reforçando que o Hip Hop não está isolado, mas profundamente vinculado às lutas por justiça social, igualdade racial e direito à cidade. A produção e o registro da memória coletiva, também se apresenta como uma forma de valorizar e documentar a história do movimento, registrando sua trajetória, e as experiências daqueles que o vivem e o transformam diariamente.

É importante que o processo de salvaguarda respeite o dinamismo do Hip Hop, preservando suas raízes sem congelar sua evolução. A cultura é viva, em constante movimento, e o Hip Hop reflete essa característica ao mesmo tempo em que enfrenta desafios como o embranquecimento e o apagamento de suas origens. Reconhecer o movimento como um dispositivo de subversão racial significa garantir que ele permaneça um espaço de produção de conhecimento e resistência, para que não seja reduzido a apenas objeto de mercado ou entretenimento.

Proteger o Hip Hop como patrimônio cultural imaterial é, acima de tudo, um ato de resistência coletiva. Ao valorizar suas raízes e assegurar sua continuidade, se reafirma o papel das periferias e das comunidades negras na construção de uma sociedade mais justa e equitativa. O Hip Hop é, ao mesmo tempo, memória e futuro, é resistência que exige ser ouvido, celebrado e preservado.

A salvaguarda do Hip Hop como patrimônio cultural imaterial transcende o reconhecimento formal. Trata-se de um movimento que não é apenas cultural, mas profundamente político e social. Uma das iniciativas desenvolvidas, é a elaboração de duas cartilhas que atendem a públicos diferentes e complementares.

A primeira, voltada para hip hoppers e o público geral, tem como objetivo conscientizar sobre a importância do Hip Hop como ferramenta de resistência e transformação social. Apresenta conceitos como o dispositivo de racialidade, explicando de maneira prática como essas estruturas impactam o movimento. Essa cartilha também busca mobilizar a comunidade para uma defesa ativa do Hip Hop, reforçando seu papel na construção de identidades periféricas e negras. Já a segunda cartilha é direcionada a agentes culturais, oferecendo diretrizes metodológicas para o registro e a implementação de planos de salvaguarda.

Para apresentar a discussão evidenciada no desenvolvimento do trabalho, foi projetado para ser impresso em um modelo físico. Caderno com design flip ou invertido, onde, na metade, o caderno precisa ser girado 180° para continuar a leitura, fazendo alusão a um disco de vinil, que tem dois lados de conteúdo, e precisa ser virado na vitrola para que todo o conteúdo do disco seja tocado. O modelo segue o tamanho de um disco de vinil médio de 10"pol, 78RPM.

Composto por:

- Uma luva de proteção, que compõe a capa principal do “Álbum”;
- Um encarte, contendo os “samples” (referências bibliográficas), ficha técnica, glossário, informações gerais do trabalho;
- Caderno, dividido em lados A e B, que compõe a pesquisa e todo desenvolvimento do trabalho;
- Caderno, dividido em lados C e D, compondo as cartilhas de educação patrimonial.

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Cartilha de Educação Patrimonial

HIP HOP: PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL

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